Viagem de Fernando Pessoa a Sintra

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À memória da minha mãe, Isabel Ríos Marquez.
Aus  meus amigos portugueses que viven en Madrid, Luís Catarino y Manuel Borgado. E tamben a Mario Nuncio que nos adoça  a vida con seus pasteis lisboetas.

O luxo e un artificio da vanidade para ocultar a miseria da alma.
Tomás de Kempis

Deixando a sociedade do mundo se cumpre materialmente  la pratica das virtudes.
Teolepto de Filadelfia


Pessoa, o poeta atormentado de Lisboa, o dos mil nomes, sonhou que já se tinha procurado a si próprio e, não se tendo encontrado, temeu perder-se nos terrenos da morte, o que lhe moveu a empreender viagem na procura da Fonte da Vida. Disseram-lhe que se achava em Sintra, entre hortas e melancólicos jardins. Subiu Pessoa para um Chevrolet preto com os seus colegas Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis, e iniciou a peregrinação. Chegados a Sintra foram conduzidos à entrada de uma cova.

Ali, o cantor da vertigem e os fiéis amigos empreenderam a exploração das entranhas da gruta munidos de tochas. Logo a seguir, os fiéis do poeta, do cantor da solidão que quis compreender a vida, viram-se surpreendidos e atraídos pelo fulgor que desprendiam as paredes de pedras preciosas da enganosa cova. Não advertindo o engano, detiveram-se a recolhê-las e encheram com elas suas taleigas. Assim foi como se perderam. Assim foi como esqueceram que a salvação era seguir a luz exterior, e não recuar como fizeram: eles não encontraram a Fonte.

Pessoa procurou entre o labirinto dos seus heterónimos e acreditou encontrar um novo: Pessoa, o Valeroso; e seguiu adiante só. Ao sair achou-se numa verde pradaria em cujo centro uma fonte vertia numa alberca as suas águas. Águas que ao cair entre o rumor melodioso, como velhos salmos, enchiam o recinto de melodiosa paz. Junto dela, oferecia a sua boca sombreada um púcaro de barro convidando a beber. Pessoa encheu-o até à borda. Quando o ia levar aos lábios um velhote judeu, como ele próprio se gabava de o ser, deteve o seu braço dizendo-lhe:

– Não bebas, cantor da harmonia inatingível! Não bebas, poeta…
– Por quê? Por acaso não é esta a água de nunca morrer? Não é boa a morte nem perecer para sempre, caindo nos domínios do esquecimento. Diz-me, é esta?
– Sim, ela tem a virtude de te tornar imortal, mas não a deves beber.
– Diz-me. Por quê?
– Bebia-a há séculos, pastor de nuvens, sonhador de embelecos, e já vês como não morri.
– Então é verdade que quem a beber achará vida sem fim…
– É verdade, mas eu bem quereria não a ter bebido, pois vi morrer quantos ia querendo e me queriam . Pai, irmãos, mulheres, filhos e amigos pesam-me como uma corrente que alastro. Para que é que eu quero a eternidade, se ninguém me conhece? A eternidade pertence ao Senhor dos justos, a quem sirvo, ao Deus zeloso de Israel. Os mais deuses são mortais, talvez criados pela angústia dos homens órfãos de consolação.

Percebeu Pessoa a tristeza e a imperiosa necessidade da morte e, depois de empreender novamente viagem a caminho da terra interior, a dos áureos frutos, evocou a figura do seu amigo Mário, e arremessou com pulso vacilante o púcaro.

E dizem os visitantes do lugar que ali onde a água forma uma pequena poça, rebentou uma figueira que resta em pé e agasalha sob a sua escura copa os seguidores do imortal poeta, que à sua sombra escutam esta história de lábios de um velhote a quem não lhe foi dado escolher, como lhe fora ao poeta rasgado pela impossível tentativa de compartilhar razão e vida em sua Mensagem.

(Versión portuguesa de Mª Teresa González Méndez , revisada por Servando Rodríguez Franco.)

Anno Templi DCCCXCVII.

orden-toledo

Acerca de Antonio Escudero Ríos

Nació en 1944 en Quintana de la Serena, Badajoz. Hizo las carreras de Filosofía y Publicidad en Madrid en donde reside desde 1960. Es editor literario e investigador de Judaica. Ha realizado ediciones facsimilares de la Guía de los Perplejos, el Cuzarí y de la obra de Isaac Cardoso. Dirigió las Jornadas Extremeñas de Estudios Judaicos en Hervás, en 1995, con Haim Beinart. Fue Director de las Actas del mencionado Congreso, publicadas en 1996. Colaborador en las revistas judías Raíces, Los Muestros, Maguem y Foro de la vida judía en el mundo, entre otras publicaciones. Creador, junto a otros entusiastas, de la Orden Nueva de Toledo, Fraternidad dedicada a la defensa plural de Israel y el Líbano cristiano, así como combatir el antisemitismo. Ha plantado miles de árboles, y construido, con Don Jaime Botella Pradillo, un jardín dedicado a los Justos de las Naciones en Las Navas del Marqués, en tierras de Castilla.

1 comentario en «Viagem de Fernando Pessoa a Sintra»
  1. El enigma de la vida ante la muerte y el paso devorador del Tiempo que nos desaloja de los sitios . Nosotros estamos inmersos en la esoeranza cristiana . La muerte deja de tener la última palabra .

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